sábado, 29 de agosto de 2009
Ainda sobre meio ambiente, no aniversário de Michael
A música do vídeo é "Earth song", de um single de 1996, nunca lançado nos EUA. Fez sucesso na Europa, mas só hoje vi este clip e como é aniversário de Michael Jackson, aqui compartilho. Vejo que tanto a vida como a morte dele foram bizarras: homicídio culposo por oversode de analgésico. Nunca comprei um disco dele, e muito provavelmente nunca vou comprar, mas certamente com 13, 14 anos, achava fabuloso vê-lo nos clips. Fora o imponderável - o complexo de "puer aeternus" e as distorções de estética - conservava certa empatia por ele.
Um trecho da letra de "Um samba de provocação" de Gilberto Gil:
"Eu cá me ponho a meditar
Pela mania da compreensão
Ainda hoje andei tentando decifrar
Algo que li que estava escrito numa pichação
Que agora eu resolvi cantar
Neste samba em forma de refrão:
'Bob Marley morreu
Porque além de negro era judeu
Michael Jackson ainda resiste
Porque além de branco ficou triste'"
Não resistiu mais. Que cante em paz.
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terça-feira, 25 de agosto de 2009
Alfabetização
"Eis por que, em uma cultura letrada, aprende ler e escrever, mas a intenção última com que o faz vai além da alfabetização. Atravessa e anima toda a empresa educativa, que não é senão aprendizagem permanente desse esforço de totalização – jamais acabada – através do qual o homem tenta abraçar-se inteiramente na plenitude de sua forma. É a própria dialética em que se existência o homem. Mas, para isto, para assumir responsavelmente sua missão de homem, há de aprender a dizer a sua palavra, pois com ela, constitui a si mesmo e a comunhão humana em que se constitui; instaura o mundo em que se humaniza, humanizando-o" (FIORI, E. M. Prefácio. In: FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987, p.13).
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Falando nisto: Francisco Beltrão
Os temas que tomaram as conversas na semana - e no final de semana - foram: religiões e meio ambiente. Por conta disto, das questões do meio ambiente, sustentabilidade, orgânicos e tal, lembrei-me de uma iniciativa muito bacana da minha cidade natal, Francisco Beltrão. Nasci lá e saí aos 10 meses. Voltei a morar lá por um ano e meio, quando tinha 8 anos de idade. Vi a matéria na tv há poucos meses e achei muito legal:
"BELTRÃO
"BELTRÃO
29 de julho de 2008
Projeto Plantando Vida recolhe 300 mil sementes
Projeto Plantando Vida recolhe 300 mil sementes
Idealizado pelo Rotary 3º Milênio, o projeto mobilizou as sete escolas do interior e ainda adquiriu uma câmara fria para o viveiro, através do Rotary Internacional.
Cristiane Sabadin
Educação e meio ambiente. Duas vertentes essenciais para a preservação da natureza uniram-se no projeto Plantando Vida, do Rotary 3º Milênio, em Francisco Beltrão. O projeto envolveu 1.624 alunos das sete escolas do interior que foram à caça de sementes nativas em suas propriedades. Essa coleta de sementes rendeu bons resultados tanto para a flora beltronense, quanto para as escolas e seus alunos. Com a parceria das secretarias de Educação e Meio Ambiente e do Rotary Internacional foi possível a realização de um concurso que premiou as escolas e os estudantes que obtiveram mais sementes nativas. Joanes Vinaga, da secretaria do Meio Ambiente; José Wilson Carvalho, do IAP (Instituto Ambiental do Paraná); Gilberto Martins, da Unioeste; Néri Munaro, do Instituto Meristema; e José Jorge Rocha, da Sanepar, formaram a comissão julgadora, que premiou escolas e alunos com melhor desempenho.
Escolas e premiaçõesA tarefa dos alunos era reunir o maior número de sementes nativas encontradas nas propriedades dos pais. A escola campeã Epitácio Pessoa, da Seção Jacaré, com 174 alunos, ganhou um projetor Data Show. A escola Deni Lineu Schwartz, da Ponte Nova do Cotegipe, ficou em segundo lugar e foi premiada com uma máquina fotográfica. Ela tem 181 alunos. Em terceiro lugar ficou a escola Professor Parigot de Souza, com 283 alunos, que recebeu como prêmio um aparelho de DVD.As demais escolas participantes, Juscelino Kubitschek, Rio Tuna, com 139 alunos; Irmão Cirilo, no Assentamento Missões, com 333 alunos; N.S.de Fátima, localizada no Distrito de Nova Concórdia, com 144 alunos; e a Basílio Tiecher, na comunidade de São Pio 10, Km 20, com 370 alunos, receberam certificados de participação. Além das premiações às escolas, os alunos destaques do projeto, escolhidos pelas próprias instituições, ganharam bicicletas — foram sete no total.
Resultados do projetoOs alunos conseguiram recolher cerca de 300 mil sementes de 41 espécies diferentes de árvores nativas da flora do município. Eram sementes leves e pesadas, de cedro, pau-marfim, canela, angico, pinhão, entre outras. Segundo Joanes Vinaga, técnico da secretaria do Meio Ambiente, a parceria com o Rotary possibilitou o início de um grande projeto de educação ambiental. “O lado bom disso tudo é que, além de conseguir as sementes, o projeto faz com que crianças e adolescentes participem do processo. Sendo assim, a consciência ambiental fica fortalecida”, salientou Vinaga.
Câmara Fria para o viveiro municipalO concurso que premiou os alunos e suas escolas aconteceu dia 21 de junho, na sede da Furbe, em Francisco Beltrão. Na mesma ocasião, através de recursos do Rotary Internacional — o projeto Plantando Vida tem participação financeira do Rotary Internacional, distrito 5110 (Rotary Club of Greater Albany); distrito 4640 (Rotary Club de Francisco Beltrão 3º Milênio); e Prefeitura Municipal — foi entregue ao viveiro municipal uma câmara fria que preserva as sementes recolhidas.A câmara mantém as sementes saudáveis até a época correta para que essas possam produzir mudas, e, então, posteriormente, serem distribuídas para o plantio nas margens dos rios que banham Francisco Beltrão.
Projeto contínuoDe acordo com Edson Flessak, do Rotary 3º Milênio, o real objetivo é plantar vida, como o próprio nome do projeto diz. Por isso, o objetivo é que as crianças das escolas do interior continuem armazenando e separando as sementes, para que, pelo menos, duas vezes por ano seja realizado o concurso. “Aumentar o número de sementes disponíveis no viveiro municipal é importante para que possamos manter as árvores nativas da cidade”, comentou Edson.O projeto também rendeu muitas mudas de conhecimento para os alunos. Isso porque, as sete bibliotecas das escolas do interior receberam coleções literárias sobre a flora brasileira. Dessa maneira, as crianças conhecem as mudas da região, que são as nativas, podendo, assim, identificar aquelas que não são daqui, consideradas exóticas. “Este projeto envolveu muitas pessoas, e a repercussão foi positiva especialmente entre os parceiros. A seriedade do projeto será levada adiante”, ressaltou Edson.A equipe que coordenou o projeto junto com Edson Carlos Flessak foi: Maria de Lourdes Villar Arruda, Rita Ivone Camana e Adriana Salvadori."
http://www.jornaldebeltrao.com.br/conteudo/noticia.asp?id=34845
Cristiane Sabadin
Educação e meio ambiente. Duas vertentes essenciais para a preservação da natureza uniram-se no projeto Plantando Vida, do Rotary 3º Milênio, em Francisco Beltrão. O projeto envolveu 1.624 alunos das sete escolas do interior que foram à caça de sementes nativas em suas propriedades. Essa coleta de sementes rendeu bons resultados tanto para a flora beltronense, quanto para as escolas e seus alunos. Com a parceria das secretarias de Educação e Meio Ambiente e do Rotary Internacional foi possível a realização de um concurso que premiou as escolas e os estudantes que obtiveram mais sementes nativas. Joanes Vinaga, da secretaria do Meio Ambiente; José Wilson Carvalho, do IAP (Instituto Ambiental do Paraná); Gilberto Martins, da Unioeste; Néri Munaro, do Instituto Meristema; e José Jorge Rocha, da Sanepar, formaram a comissão julgadora, que premiou escolas e alunos com melhor desempenho.
Escolas e premiaçõesA tarefa dos alunos era reunir o maior número de sementes nativas encontradas nas propriedades dos pais. A escola campeã Epitácio Pessoa, da Seção Jacaré, com 174 alunos, ganhou um projetor Data Show. A escola Deni Lineu Schwartz, da Ponte Nova do Cotegipe, ficou em segundo lugar e foi premiada com uma máquina fotográfica. Ela tem 181 alunos. Em terceiro lugar ficou a escola Professor Parigot de Souza, com 283 alunos, que recebeu como prêmio um aparelho de DVD.As demais escolas participantes, Juscelino Kubitschek, Rio Tuna, com 139 alunos; Irmão Cirilo, no Assentamento Missões, com 333 alunos; N.S.de Fátima, localizada no Distrito de Nova Concórdia, com 144 alunos; e a Basílio Tiecher, na comunidade de São Pio 10, Km 20, com 370 alunos, receberam certificados de participação. Além das premiações às escolas, os alunos destaques do projeto, escolhidos pelas próprias instituições, ganharam bicicletas — foram sete no total.
Resultados do projetoOs alunos conseguiram recolher cerca de 300 mil sementes de 41 espécies diferentes de árvores nativas da flora do município. Eram sementes leves e pesadas, de cedro, pau-marfim, canela, angico, pinhão, entre outras. Segundo Joanes Vinaga, técnico da secretaria do Meio Ambiente, a parceria com o Rotary possibilitou o início de um grande projeto de educação ambiental. “O lado bom disso tudo é que, além de conseguir as sementes, o projeto faz com que crianças e adolescentes participem do processo. Sendo assim, a consciência ambiental fica fortalecida”, salientou Vinaga.
Câmara Fria para o viveiro municipalO concurso que premiou os alunos e suas escolas aconteceu dia 21 de junho, na sede da Furbe, em Francisco Beltrão. Na mesma ocasião, através de recursos do Rotary Internacional — o projeto Plantando Vida tem participação financeira do Rotary Internacional, distrito 5110 (Rotary Club of Greater Albany); distrito 4640 (Rotary Club de Francisco Beltrão 3º Milênio); e Prefeitura Municipal — foi entregue ao viveiro municipal uma câmara fria que preserva as sementes recolhidas.A câmara mantém as sementes saudáveis até a época correta para que essas possam produzir mudas, e, então, posteriormente, serem distribuídas para o plantio nas margens dos rios que banham Francisco Beltrão.
Projeto contínuoDe acordo com Edson Flessak, do Rotary 3º Milênio, o real objetivo é plantar vida, como o próprio nome do projeto diz. Por isso, o objetivo é que as crianças das escolas do interior continuem armazenando e separando as sementes, para que, pelo menos, duas vezes por ano seja realizado o concurso. “Aumentar o número de sementes disponíveis no viveiro municipal é importante para que possamos manter as árvores nativas da cidade”, comentou Edson.O projeto também rendeu muitas mudas de conhecimento para os alunos. Isso porque, as sete bibliotecas das escolas do interior receberam coleções literárias sobre a flora brasileira. Dessa maneira, as crianças conhecem as mudas da região, que são as nativas, podendo, assim, identificar aquelas que não são daqui, consideradas exóticas. “Este projeto envolveu muitas pessoas, e a repercussão foi positiva especialmente entre os parceiros. A seriedade do projeto será levada adiante”, ressaltou Edson.A equipe que coordenou o projeto junto com Edson Carlos Flessak foi: Maria de Lourdes Villar Arruda, Rita Ivone Camana e Adriana Salvadori."
http://www.jornaldebeltrao.com.br/conteudo/noticia.asp?id=34845
A matéria apresentada no jornal estadual, em 16/05/09, pode ser vista neste link:
A matéria foi publicada também no site Ambiente Brasil, em 18/05/09:
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domingo, 23 de agosto de 2009
MÚSICA E IMAGEM NA TRILOGIA QATSI
Godfrey Reggio e Philip Glass se uniram para a criação da trilogia Qatsi. Com produção de Francis Ford Coppola e Geofrey Reggio, direção deste e trilha sonora de Philip Glass, os três documentários são somente de imagem e música.
Os filmes que formam a trilogia são "Koyaanisqatsi" (vida fora do equilíbrio), "Powaqqatsi" (vida em transformação) e "Naqoyqatsi" (vida em guerra), lançados em 1982, 1998 e 2002, respectivamente. A palavra "qatsi" - do idioma indígena Hopi - pode ser traduzida como vida louca, tumultuada, em desintegração, em desequilíbrio.
Vi os dois primeiros e, pelo que sei, o terceiro ainda não chegou ao Brasil. O trecho que coloquei foi um dos que mais me impressionou, foi filmado nas minas de Serra Pelada: o movimento espontâneo dos garimpeiros.
Ao final de cada filme é feita a referência a um profecia Hopi. Independente das profecias, pelo poder das imagens e da música e, ainda, pelo o natural convite à reflexão, valem muito a pena.
sábado, 22 de agosto de 2009
RECOMENDO: JOSEPH CAMPBELL - O PODER DO MITO
Assisti ao documentário "O poder do mito" há 3 anos e gostei muito. Em resumo, Campbell examina diversos mitos, de diferentes culturas e épocas, apontando o padrão comum que identifica como sendo a jornada do herói. Foram gravadas seis horas em entrevistas concedidas a Bill Moyers, ao longo de anos, material este que veio a ser transformado no dito documentário. O tom de Joseph Campbell é amistoso e tranquilo, com impressionante riqueza de referências de literatura, arte, antropologia e história.
Há diversos livros publicados por ele, mas creio que o que mais se destaca é "O herói de mil faces", publicado em 1949.
Fiquei triste ao saber, logo depois de ter visto o documentário, que ele havia falecido em 1987.
Aqui está um link para uma biografia de Joseph Campbell:
http://www.monomito.net/?cat=5
Há diversos livros publicados por ele, mas creio que o que mais se destaca é "O herói de mil faces", publicado em 1949.
Fiquei triste ao saber, logo depois de ter visto o documentário, que ele havia falecido em 1987.
Aqui está um link para uma biografia de Joseph Campbell:
http://www.monomito.net/?cat=5
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
A METÁFORA RELIGIOSA - JOSEPH CAMPBELL
"Deixe-me começar, explicando a historia de meu impulso para colocar a metáfora no centro de nossa exploração da espiritualidade ocidental.
Quando o primeiro volume do meu Historical Atlas of World Mythology: The Way of Animal Powers foi publicado, os editores me enviaram numa turnê publicitária. É o pior tipo de turnê possível porque você tem de se encontrar, sem a menor vontade, com locutores de rádio e repórteres, eles próprios indispostos a ler o livro sobre o qual devem conversar com o entrevistado, para gerar visibilidade.
A primeira pergunta que me faziam era sempre:
“O que é um mito?”
É um bom começo para uma conversa inteligente.
Em uma cidade, porém, entrei numa estação de rádio para um programa de meia hora, ao vivo, em que o entrevistador era um jovem com ar de astuto e que imediatamente me alertou:
“Sou difícil, já vou lhe avisando. Sou um cético.”
A luz vermelha acendeu e ele começou, argumentativo:
“A palavra ‘mito’ significa ‘uma mentira’. Mito é uma mentira”.
Repliquei com a minha definição de mito.
“Não, mito não é uma mentira.
Uma mitologia completa é uma organização de imagens e narrativas simbólicas, metafóricas das possibilidades de experiência humana e da realização de determinada cultura em certo momento”.
“É uma mentira”, ele retrucou.
“É uma metáfora”.
“É uma mentira”.
Isso continuou por uns vinte minutos.
Quatro ou cinco minutos antes do fim do programa, percebi que o entrevistador não sabia o que era uma metáfora. Resolvi tratá-lo da mesma maneira como estava sendo tratado.
“Não”, eu disse.
“Eu lhe digo que algo é metafórico. Dê-me um exemplo de metáfora.”
Ele respondeu.
“Dê-me você um exemplo”.
Eu resisti.
“Não, agora eu estou fazendo a pergunta”.
Eu não tinha lecionado por trinta anos à toa.
“E eu quero que você me dê um exemplo de metáfora”.
O entrevistador ficou totalmente pasmo e chegou a dizer:
“Vamos chamar um professor.”
Finalmente, depois de um minuto e meio, ele se recompôs e disse:
“Vou tentar. Meu amigo John corre muito. Dizem que ele corre como um cervo. Isso é uma metáfora”.
Enquanto se passavam os últimos segundos da entrevista, eu repliquei.
“Isso não é metáfora. A metáfora seria: John é um cervo.”
Ele revidou: “Isso é uma mentira”.
“Não”, eu disse. “É uma metáfora”.
E o programa terminou.
O que esse incidente sugere sobre a nossa compreensão de metáfora?
Ele me fez refletir que metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos.
E a outra metade afirma que não são fatos, de forma alguma.
O resultado é que temos indivíduos que se consideram fieis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras."
Quando o primeiro volume do meu Historical Atlas of World Mythology: The Way of Animal Powers foi publicado, os editores me enviaram numa turnê publicitária. É o pior tipo de turnê possível porque você tem de se encontrar, sem a menor vontade, com locutores de rádio e repórteres, eles próprios indispostos a ler o livro sobre o qual devem conversar com o entrevistado, para gerar visibilidade.
A primeira pergunta que me faziam era sempre:
“O que é um mito?”
É um bom começo para uma conversa inteligente.
Em uma cidade, porém, entrei numa estação de rádio para um programa de meia hora, ao vivo, em que o entrevistador era um jovem com ar de astuto e que imediatamente me alertou:
“Sou difícil, já vou lhe avisando. Sou um cético.”
A luz vermelha acendeu e ele começou, argumentativo:
“A palavra ‘mito’ significa ‘uma mentira’. Mito é uma mentira”.
Repliquei com a minha definição de mito.
“Não, mito não é uma mentira.
Uma mitologia completa é uma organização de imagens e narrativas simbólicas, metafóricas das possibilidades de experiência humana e da realização de determinada cultura em certo momento”.
“É uma mentira”, ele retrucou.
“É uma metáfora”.
“É uma mentira”.
Isso continuou por uns vinte minutos.
Quatro ou cinco minutos antes do fim do programa, percebi que o entrevistador não sabia o que era uma metáfora. Resolvi tratá-lo da mesma maneira como estava sendo tratado.
“Não”, eu disse.
“Eu lhe digo que algo é metafórico. Dê-me um exemplo de metáfora.”
Ele respondeu.
“Dê-me você um exemplo”.
Eu resisti.
“Não, agora eu estou fazendo a pergunta”.
Eu não tinha lecionado por trinta anos à toa.
“E eu quero que você me dê um exemplo de metáfora”.
O entrevistador ficou totalmente pasmo e chegou a dizer:
“Vamos chamar um professor.”
Finalmente, depois de um minuto e meio, ele se recompôs e disse:
“Vou tentar. Meu amigo John corre muito. Dizem que ele corre como um cervo. Isso é uma metáfora”.
Enquanto se passavam os últimos segundos da entrevista, eu repliquei.
“Isso não é metáfora. A metáfora seria: John é um cervo.”
Ele revidou: “Isso é uma mentira”.
“Não”, eu disse. “É uma metáfora”.
E o programa terminou.
O que esse incidente sugere sobre a nossa compreensão de metáfora?
Ele me fez refletir que metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos.
E a outra metade afirma que não são fatos, de forma alguma.
O resultado é que temos indivíduos que se consideram fieis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras."
ZEITGEIST, O FILME
Este filme foi feito para a internet. Algumas coisas podem ser aproveitadas, mas é fácil notar que algumas informações, dadas como históricas, senão completamente inverídicas, são de impossível comprovação. Quem aprecia a investigação dos dados históricos e as teorias conspiratórias, tem vasto campo de diversão com este filme.
Li em alguns sites por aí uma agressiva campanha de contestação ao filme - ponto por ponto. A quem interessar possa:
"Zeitgeist, o Filme Estados Unidos 2007 ı cor ı 116 min Direção Peter Joseph
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Idioma inglês
Zeitgeist, o Filme (Zeitgeist, the Movie, no original) é um filme de 2007 produzido por Peter Joseph, aborda temas como Cristianismo, ataques de 11 de setembro e o Banco Central dos Estados Unidos da América (Federal Reserve).[1] Ele foi lançado online livremente via Google Video em Junho de 2007.[2] Uma versão remasterizada foi apresentada como um premiere global em 10 de novembro de 2007 no 4th Annual Artivist Film Festival & Artivist Awards.[3]
Em 2 de Outubro de 2008 foi lançado um segundo filme, continuação do primeiro, chamado Zeitgeist:Addendum, onde se trata temas com a globalização, manipulação do homem pelas grandes corporações e instituições financeiras, e aborda a atual insustentabilidade material e moral da humanidade, apresentando o Projeto Vênus como solução para o problema. "
*Zeitgeist (? (audio); pronúncia: tzait.gaisst) é um termo alemão cuja tradução significa espírito de época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. O Zeitgeist significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.
O conceito de espírito de época remonta a Johann Gottfried Herder e outros românticos alemães, mas ficou melhor conhecido pela obra de Hegel, Filosofia da História. Em 1769, Herder escreveu uma crítica ao trabalho Genius seculi do filólogo Christian Adolph Klotz, introduzindo a palavra Zeitgeist como uma tradução de genius seculi (Latim: genius - "espírito guardião" e saeculi - "do século").[1] Os alemães românticos, tentados normalmente à redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o "espírito de época" como um argumento histórico de sua defesa intelectual.
O conceito de espírito de época remonta a Johann Gottfried Herder e outros românticos alemães, mas ficou melhor conhecido pela obra de Hegel, Filosofia da História. Em 1769, Herder escreveu uma crítica ao trabalho Genius seculi do filólogo Christian Adolph Klotz, introduzindo a palavra Zeitgeist como uma tradução de genius seculi (Latim: genius - "espírito guardião" e saeculi - "do século").[1] Os alemães românticos, tentados normalmente à redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o "espírito de época" como um argumento histórico de sua defesa intelectual.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
NÃO SE APRESSE EM ACREDITAR
"Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas. Não se apresse em acreditar em nada só porque um professor famoso que disse. Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo."
(Siddartha Gautama, o Buddha, Kalama Sutra 17:49)
(Siddartha Gautama, o Buddha, Kalama Sutra 17:49)
*foto Fabio Yamauti: Templo Budista Zu Lai
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Manual de transliteração
Estes são os manuais de redação de quatro dos principais jornais brasileiros:
Jornal do Brasil – “Para os nomes estrangeiros de línguas que não usam o nosso alfabeto, emprega-se grafia aproximada do som da palavra, sem imitar a grafia inglesa ou francesa. Pode haver também uma convenção internacional, como a que é empregada para grafia de nomes chineses. Esses casos requerem freqüentemente consulta aos redatores ou editores. (...) Devem ter seus nomes grafados de acordo com a ortografia em vigor no Brasil.” “Nomes indígenas - No Jornal do Brasil, os tupis são os tupis e não os Tupi. Os ianomãmis não são os Yanomami; os caiapós não são os Kaiàpó. A grafia no singular, com inicial maiúscula e usando eventualmente as letras k, w e y, é adotada em ciências sociais, por necessidades específicas de obediência a normas internacionais. Não há por que seguir tais normas no jornal.”
O Globo – “Para nomes próprios em idiomas que usam outros alfabetos, emprega-se, com algum grau de arbitrariedade, a grafia simplificada aproximada do som da palavra, sem imitar a grafia inglesa ou francesa. Assim: Kruchov, e não Kruschev (inglês) ou Khroutchev (francês). Escrevemos Gorbatchov e Tchernóbil. Apesar do critério fonético, prefere-se ‘K’ a ‘C’ em atenção ao uso.” “Nomes de tribos indígenas são grafados no plural: os xavantes, os tupis, os guaranis, os apaches, os incas, os maias, os astecas, os txucarramães etc. Note-se que os nomes indígenas brasileiros são aportuguesados, sem ‘w’, ‘y’ ou ‘k’.”
O Estado de São Paulo – “Nos nomes estrangeiros, especialmente, preste atenção para que o nome da pessoa seja escrito corretamente. Assim, González (Felipe) e não Gonzales; Rodríguez (Andrés) e não Rodrigues; Walters (Vernon) e não Valters, etc.” “Nomes japoneses. Os nomes comuns em geral são aportuguesados: saquê, camicase, iene, gueixa, quimono, nô, etc. Exceções: sashimi, karaokê, sukyaki, sushi, tempura, batayaki, ikebana. 2 - Os nomes de pessoas seguem a transcrição ocidental, fornecida em geral pelas agências de notícias: Akihito, Sosuke Uno, Noboru Takeshita, Yasuhiro Nakasone, Kakuei Tanaka. Nos nomes geográficos, o único aportuguesamento que o Estado faz é o de Tóquio. Nos demais casos, use sempre a transcrição oficial: Osaka, Yokohama, Fukuoka, Iwo Jima, Nagoya, Hiroshima, Nagasaki, etc.” “Nomes geográficos. Não há normas definidas para a grafia dos nomes geográficos. Há os que já estão adaptados ao português (Filadélfia, Londres, Moscou, Bruxelas) e os que deverão ser escritos na grafia original (El Paso, San José, Sydney, New Hampshire). O capítulo seguinte deste volume relaciona os principais nomes geográficos e a forma pela qual o Estado os escreve.”
Folha de S.Paulo – “russos - Translitere segundo a pronúncia aproximada. (...) Lembre-se de que muitos topônimos russos chegaram ao português através de outras línguas e não diretamente do russo. Assim, escreve-se Moscou e não Moskva, São Petersburgo e não Sankt Peterburg.
chinês - Para a República Popular da China, existe uma transliteração oficial denominada Pinyin, que entrou em vigor em 1979. Ela substitui a velha Wade-Giles, com a vantagem de eliminar os hifens e apóstrofos.
árabes – (...) A Folha faz algumas adaptações nas transliterações enviadas pelas agências. Substitua os YY e WW por II e UU, respectivamente, exceto quando a combinação resultar numa vogal geminada. Se isso ocorrer, elimine uma delas: Kuwait=Kuuait=Kuait. Substitua o SH por CH: Shatt al Arab=Chatt al Arab. Mantenha o H em qualquer situação que ele apareça.
outras línguas - São sempre louváveis os esforços para escrever em português nomes de línguas grafadas em alfabetos não-latinos.”
Jornal do Brasil – “Para os nomes estrangeiros de línguas que não usam o nosso alfabeto, emprega-se grafia aproximada do som da palavra, sem imitar a grafia inglesa ou francesa. Pode haver também uma convenção internacional, como a que é empregada para grafia de nomes chineses. Esses casos requerem freqüentemente consulta aos redatores ou editores. (...) Devem ter seus nomes grafados de acordo com a ortografia em vigor no Brasil.” “Nomes indígenas - No Jornal do Brasil, os tupis são os tupis e não os Tupi. Os ianomãmis não são os Yanomami; os caiapós não são os Kaiàpó. A grafia no singular, com inicial maiúscula e usando eventualmente as letras k, w e y, é adotada em ciências sociais, por necessidades específicas de obediência a normas internacionais. Não há por que seguir tais normas no jornal.”
O Globo – “Para nomes próprios em idiomas que usam outros alfabetos, emprega-se, com algum grau de arbitrariedade, a grafia simplificada aproximada do som da palavra, sem imitar a grafia inglesa ou francesa. Assim: Kruchov, e não Kruschev (inglês) ou Khroutchev (francês). Escrevemos Gorbatchov e Tchernóbil. Apesar do critério fonético, prefere-se ‘K’ a ‘C’ em atenção ao uso.” “Nomes de tribos indígenas são grafados no plural: os xavantes, os tupis, os guaranis, os apaches, os incas, os maias, os astecas, os txucarramães etc. Note-se que os nomes indígenas brasileiros são aportuguesados, sem ‘w’, ‘y’ ou ‘k’.”
O Estado de São Paulo – “Nos nomes estrangeiros, especialmente, preste atenção para que o nome da pessoa seja escrito corretamente. Assim, González (Felipe) e não Gonzales; Rodríguez (Andrés) e não Rodrigues; Walters (Vernon) e não Valters, etc.” “Nomes japoneses. Os nomes comuns em geral são aportuguesados: saquê, camicase, iene, gueixa, quimono, nô, etc. Exceções: sashimi, karaokê, sukyaki, sushi, tempura, batayaki, ikebana. 2 - Os nomes de pessoas seguem a transcrição ocidental, fornecida em geral pelas agências de notícias: Akihito, Sosuke Uno, Noboru Takeshita, Yasuhiro Nakasone, Kakuei Tanaka. Nos nomes geográficos, o único aportuguesamento que o Estado faz é o de Tóquio. Nos demais casos, use sempre a transcrição oficial: Osaka, Yokohama, Fukuoka, Iwo Jima, Nagoya, Hiroshima, Nagasaki, etc.” “Nomes geográficos. Não há normas definidas para a grafia dos nomes geográficos. Há os que já estão adaptados ao português (Filadélfia, Londres, Moscou, Bruxelas) e os que deverão ser escritos na grafia original (El Paso, San José, Sydney, New Hampshire). O capítulo seguinte deste volume relaciona os principais nomes geográficos e a forma pela qual o Estado os escreve.”
Folha de S.Paulo – “russos - Translitere segundo a pronúncia aproximada. (...) Lembre-se de que muitos topônimos russos chegaram ao português através de outras línguas e não diretamente do russo. Assim, escreve-se Moscou e não Moskva, São Petersburgo e não Sankt Peterburg.
chinês - Para a República Popular da China, existe uma transliteração oficial denominada Pinyin, que entrou em vigor em 1979. Ela substitui a velha Wade-Giles, com a vantagem de eliminar os hifens e apóstrofos.
árabes – (...) A Folha faz algumas adaptações nas transliterações enviadas pelas agências. Substitua os YY e WW por II e UU, respectivamente, exceto quando a combinação resultar numa vogal geminada. Se isso ocorrer, elimine uma delas: Kuwait=Kuuait=Kuait. Substitua o SH por CH: Shatt al Arab=Chatt al Arab. Mantenha o H em qualquer situação que ele apareça.
outras línguas - São sempre louváveis os esforços para escrever em português nomes de línguas grafadas em alfabetos não-latinos.”
domingo, 16 de agosto de 2009
Encontro com Wangdor Rimpoche
Estive em contato nesta semana pela terceira vez com uma egrégora budista. Nas duas primeiras experiências, não me identifiquei com o rito do Budismo japonês e o mesmo se deu com o Budismo tibetano.
Como dizia, nesta semana, fui a um encontro com dois seres muito especiais: "o Venerável Wangdor Rimpoche*, Mestre de alto grau do budismo tibetano" e a sua adorável tradutora, Lama Lena Yeshe Kaytupsua. Pertencente à última geração dos grandes mestres tibetanos completamente treinados no Tibet, antes da invasão do país pela China, Wangdor Rinpoche passou mais de 50 dos seus 80 anos de vida em meditação em cavernas ao norte da Índia. O tema do encontro foi “Conselhos do Coração de um velho iogue das cavernas”. Estar na presença deles é muito agradável e poder ouvi-los é inexplicavelmente maravilhoso. Foram lições muito profundas, porém simples. Muita graça, nos dois sentidos da palavra. Saí de lá com sentimento de imensa gratidão ao Barone, porque me presenteou com a sua iniciativa e, com o convite; às pessoas que organizaram o evento e, obviamente, aos dois seres que atravessaram o mundo para estar naquela sala, compartilhando conhecimento daquele nível.
E o outro aspecto da graça me veio porque uma das pessoas presentes, sentada perto de mim, ao ouvir um celular tocando muito baixo perto de nós, arrogou-se o direito de repreender, falando: "Que falta de respeito!". Seguiam os seres superiores lá na frente, no maior sossego, distribuindo bem-aventuranças em cada palavra, sem montanha, nem sermão - e alguém ao lado me fez lembrar as enfadonhas missas da minha infância, quando eu nada entendia daquele monte de palavras repetidas, mas tinha que manter silêncio e não poderia rir, porque isto não parecia ser o que Deus quer de nós. Aí vem a questão da graça - pois não estou julgando em vão o comportamento de alguém - estou avaliando o que quero para a minha vida. Considero-me cristã, pois para mim Jesus é uma presença boa - mas não sou mais católica, embora batizada. Estou à espera de que alguma religião (do latim religare) me agrade. Não me faz falta, porque no mais das vezes sinto-me ligada. A partir do que a experiência da censura ao celular acessou em minha memória, esta exigência faço: se um dia tiver uma nova religião, terá que ter esta graça também, de trazer um sorriso fácil e até gargalhadas, como aconteceu no nosso encontro com o fofíssimo Rimpoche. Devoção e respeito combinam muito bem com sorrisos e gargalhadas.
De caras feias, censura e sermões sobre assuntos desconhecidos para o pregador - ou até contrários à sua prática diária - já tive experiências além da minha paciência, a qual nem se aproxima da de Jó. Ai que cansaço com pregadores de modo geral. Se acontecer-me a alegria de encontrar uma egrégora para paz, para me religar à sensação de estar no colo do Criador, é para lá que eu vou. Se não, também será sereno e bem-aventurado o caminho, porque mesmo na busca, tenho encontrado muitas alegrias e graças.
_____________________
*Rimpoche: do Tibetano: precioso (Significa literalmente Grande Jóia e é um título utilizado para se dirigir ao lama ou mestre em quem se depositou confiança durante os estágios iniciais da prática e é usado também para dirigir-se às autoridades monásticas).
O pai - Osho
"A instituição pai é algo inventado pelo homem. Não é uma coisa natural - é institucional. Algum dia pode desaparecer... A humanidade vivia sem a instituição da paternidade.
Talvez você se surpreenda em saber que a palavra tio é mais antiga que a palavra pai, porque o matriarcado precedeu o patriarcado. A mãe era conhecida, mas o pai era desconhecido porque a mãe estava se encontrando com muitas pessoas. Alguém tinha que ser o pai, mas não havia jeito de descobrir. Assim todos eram tios - todos os pais em potencial eram tios.
A instituição da paternidade veio com a invenção da propriedade privada; eles estão ligados. O pai representa a propriedade privada, porque quando a propriedade privada surgiu todos queriam seu próprio filho para herdá-la. "Eu não estarei aqui, mas uma parte de mim deveria herdar minha propriedade."
A propriedade particular veio primeiro, depois veio o pai.
E estar absolutamente certo que "A criança é o meu próprio sangue" - a idéia tornou-se prevalecente em quase todas as sociedades do mundo; e antes do casamento a mulher tem que ser absolutamente virgem. caso contrário é difícil decidir. Ela talvez já esteja carregando uma criança quando se casar, talvez esteja grávida, e então a criança será alguém e ela herdará a propriedade.
Para certificar-se que "É meu filho que vai herdar minha propriedade," a virgindade foi imposta à mulher.
Toda essa idéia de propriedade privada é que tem criado a figura do pai, a família, a posse da mulher pelo homem. Quando não houver propriedade privada, a figura do pai irá desaparecer. "
Osho, em "O Livro do Homem"
Talvez você se surpreenda em saber que a palavra tio é mais antiga que a palavra pai, porque o matriarcado precedeu o patriarcado. A mãe era conhecida, mas o pai era desconhecido porque a mãe estava se encontrando com muitas pessoas. Alguém tinha que ser o pai, mas não havia jeito de descobrir. Assim todos eram tios - todos os pais em potencial eram tios.
A instituição da paternidade veio com a invenção da propriedade privada; eles estão ligados. O pai representa a propriedade privada, porque quando a propriedade privada surgiu todos queriam seu próprio filho para herdá-la. "Eu não estarei aqui, mas uma parte de mim deveria herdar minha propriedade."
A propriedade particular veio primeiro, depois veio o pai.
E estar absolutamente certo que "A criança é o meu próprio sangue" - a idéia tornou-se prevalecente em quase todas as sociedades do mundo; e antes do casamento a mulher tem que ser absolutamente virgem. caso contrário é difícil decidir. Ela talvez já esteja carregando uma criança quando se casar, talvez esteja grávida, e então a criança será alguém e ela herdará a propriedade.
Para certificar-se que "É meu filho que vai herdar minha propriedade," a virgindade foi imposta à mulher.
Toda essa idéia de propriedade privada é que tem criado a figura do pai, a família, a posse da mulher pelo homem. Quando não houver propriedade privada, a figura do pai irá desaparecer. "
Osho, em "O Livro do Homem"
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
osho e sócrates
A sociedade apodrecida, a multidão, a mente das massas não conseguem tolerar os indivíduos. É impossível para eles tolerar um Sócrates. Vocês sabem por qual crime Sócrates foi acusado? Exatamente a mesma coisa que dizem a meu respeito. A acusação contra Sócrates é de que ele costumava corromper a mente da juventude. É exatamente o que meus inimigos dizem: que eu estou corrompendo a mente das pessoas, em particular a mente dos jovens. E Sócrates estava corrompendo a mente dos jovens? Ele estava tentando despertar a inteligência deles, mas a sociedade ficou com medo. Se muitas pessoas se tornassem autênticas e verdadeiras, isso colocaria em perigo os interesses ocultos, eles não conseguiriam mais dirigir as pessoas como gado. E isto é o que os sacerdotes gostam de fazer e os políticos também.
A seu modo, ele declarava-se existencialista:"Eu não sou um lógico, sou um existencialista. Acredito nesse belo caos da existência e estou pronto para ir aonde quer que ela vá. Não tenho uma meta, porque a existência não possui uma meta. Ela simplesmente é, florescendo, brotando, dançando - mas não pergunte porque. Apenas um transbordamento de energia, sem motivo algum. Estou com a existência."A sua visão sobre o existencialismo, contudo, ia além:"Esse homem, Nikolai Berdyaev, foi um dos maiores existencialista do século XX. E o existencialismo tem penetrado nos mistérios da vida muito profundamente – não até o final, é claro, mas o existencialismo é um bom começo. Ninguém deveria parar nele, porque o começo é negativo. Se você não mergulhar nele, ele permanece negativo. Começa a ter uma qualidade positiva apenas quando você realmente vai fundo nele. Buda também é um existencialista, mas ele foi até o final. Sartre, Heidegger, Jasper, Marcel, Berdyaev, eles também são existencialistas, mas estão parados em algum lugar no meio, não foram até o final. Por isso eles permanecem negativos. Mas o insight está certo – nas linhas certas, na direção certa. Os existencialistas falam de desespero, angústia, ansiedade, depressão, tristeza, miséria – tudo o que é sombrio, triste. Eles nunca falam de bênção, de alegria, de celebração. Mesmo assim, gostaria de dizer que eles estão se movendo na direção certa. Se eles se moverem um pouco mais, logo encontrarão a alegria surgindo. "
Osho e os livros
A biblioteca de Osho é considerada a maior do mundo - entre as bibliotecas pessoais - contendo mais de 150.000 livros (a maior biblioteca pessoal brasileira é de José Mindlin, com 38.000 títulos). A coleção de obras iniciou quando Osho era ainda criança, e os títulos eram conseguidos por livreiros de Puna e Mumbai (Índia). Osho leu todos os livros que possuía.
A biblioteca de Osho era composta por toda sorte de livros, de filosofia, psicologia, literatura, poesia e de diversas religiões. Em um vídeo, ele conta que as crianças sabiam respeitar mais os livros do que os adultos, e que por isso, deixava para várias crianças de sua família a atribuição de cuidar de sua biblioteca.
Esta é uma lista dos títulos preferidos de Osho:
Ana Karênina – L. Tolstói
Assim Falava Zarathustra – F. Nietzche
Tao Te Ching – Lao Tzu
O Profeta – Khalil Gibran
Folhas de Relva – Walt Withman
Dhammapada – Gautama Buda
Siddharta – Hermann Hesse
Aos Pés do Mestre – J. Krishnamurti
Mulla Nasruddin – estórias de Mulla Nasruddin
O Espírito Zen – Alan Watts
O Ser e o Nada – Jean-Paul Sartre
Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll
Os Analectos – Confúcio
O Manifesto Comunista – Marx e Engels
I Ching – desconhecido
A Psicanálise e o Inconsciente – D.H. Lawrence
Investigações Filosóficas – Ludwig Wittgenstein
Poética – Aristóteles
Escute Zé Ninguém – Wilhelm Reich
Guerra e Paz – L. Tolstói
Sede de Viver – Irving Stone
O Talmude – autores judeus
O Sermão da Montanha – Jesus Cristo
Diálogos de Sócrates – Platão
Relatos de Belzebu a seu neto (Do Todo e de Tudo) – George Gurdjieff
Curiosamente, assim como Sócrates, Osho nunca escreveu um livro! As milhares de palestras que proferiu, na maior parte delas respondendo a perguntas formuladas por discípulos e buscadores, foram transcritas para os livros - mais de 600 títulos. Há cerca de 7.000 palestras disponíveis em fitas cassete e CDs e 1.700 em vídeos.
Sobre o efeito pretendido com os vídeos, Osho declarou:
"Vídeos são maneiras muito melhores de atingir pessoas, pois elas podem me ouvir da mesma maneira que vocês estão me ouvindo agora. Somente ouvir a palavra sem ver a pessoa é uma coisa; mas faz muita diferença, também ver a pessoa. É totalmente diferente, pois quando você está apenas me lendo ou me ouvindo, você não poderá ver minha mão, a qual diz mais do que posso dizer com minhas palavras; não estará olhando para os meus olhos, os quais têm muito mais a dizer do que as palavras podem transmitir. Alguma coisa estará faltando, alguma coisa de imenso valor: a pessoa estará faltando!" (Osho - Tao: O Portal Dourado)
Para Osho, ouvir suas palestras era a proposta de um outro modo de meditar:
"Pergunta: Amado Mestre, percebi que é mais fácil ficar realmente silencioso enquanto o escuto do que em qualquer outra meditação. Quando você pára de falar, tudo parece parar por um momento e tenho o vislumbre do que a meditação pode ser.
Meu falar é uma de minhas estratégias para a meditação. O falar nunca antes foi usado desta maneira: falo não para lhe dar uma mensagem, mas para interromper o funcionamento de sua mente.
E não é somente aqui, mas distante... em qualquer lugar do mundo onde pessoas estejam escutando o vídeo ou o áudio, elas atingirão o mesmo silêncio. Assim como você escuta música, escute-me dessa maneira. Não me escute como você escuta um filósofo; escute-me como você escuta os pássaros, escute-me como você escuta uma cachoeira, escute-me como você escuta o vento soprando por entre os pinheiros; não através da mente discursiva, mas através do coração participante. E então, algo que continuamente você sente que está faltando, não estará faltando.
Coloque a mente de lado. Enquanto me escuta, não tente entender; apenas escute silenciosamente. Não decifre se o que estou dizendo é verdadeiro ou não. Não se preocupe com a sua verdade ou inverdade; não estou lhe pedindo para acreditar, então não há necessidade de pensar sobre a sua verdade ou inverdade. Escute-me apenas como você escuta os pássaros cantando ou o vento passando pelos pinheiros ou o som da água corrente...” (Osho - The Invitation - discurso nº 14)
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Mapas de Fernando Pessoa e seus heterónimos
Fernando Pessoa
E aí está o mapa astral do Fernando Pessoa. 13/06/1888, às 15:00, Lisboa-Portugal. Uma tropa em Gêmeos, Lua e Saturno em Leão e Ascendente em Escorpião. Interessante notar, Marte, regente do Ascendente, o próprio Fernando, na 12 - a dos exílios e cárcere.Ricardo ReisE aí está o mapa astral de Ricardo Reis, outro ilustre heterônimo de Pessoa. Sol em Virgem, Lua em Libra, Ascendente em Aquário. 19/09/1887, às 16:05, Lisboa/Portugal.
Alberto Caeiro
Aí está: também na caligrafia de Pessoa. Alberto Caieiro, 16 de abril de 1889, 13:45, Lisboa/Portugal. Um ariano, com VÊNUS em TOURO e Marte, regente de Áries, em TOURO. Note anotação do Pessoa: ‘Regulus a 28 e 38 de Leão’. há outras ali, que não entendi muito bem. Parece que tratam de progressões para 1915.
João Acuio
Fernando Pessoa
E aí está o mapa astral do Fernando Pessoa. 13/06/1888, às 15:00, Lisboa-Portugal. Uma tropa em Gêmeos, Lua e Saturno em Leão e Ascendente em Escorpião. Interessante notar, Marte, regente do Ascendente, o próprio Fernando, na 12 - a dos exílios e cárcere.Ricardo ReisE aí está o mapa astral de Ricardo Reis, outro ilustre heterônimo de Pessoa. Sol em Virgem, Lua em Libra, Ascendente em Aquário. 19/09/1887, às 16:05, Lisboa/Portugal.
Alberto Caeiro
Aí está: também na caligrafia de Pessoa. Alberto Caieiro, 16 de abril de 1889, 13:45, Lisboa/Portugal. Um ariano, com VÊNUS em TOURO e Marte, regente de Áries, em TOURO. Note anotação do Pessoa: ‘Regulus a 28 e 38 de Leão’. há outras ali, que não entendi muito bem. Parece que tratam de progressões para 1915.
João Acuio
Gerundismo
A PRAGA DO "GERUNDISMO"
Pasquale Cipro Neto
Frases como ..eu vou estar transferindo a ligação.. surgiram no telemarketing.Mas já se instalaram no topo. lá na diretoria
Pasquale Cipro Neto
Frases como ..eu vou estar transferindo a ligação.. surgiram no telemarketing.Mas já se instalaram no topo. lá na diretoria
......Não acredito no purismo lingüístico, não. Desde que o homem é homem, as culturas e, conseqüentemente, as línguas se interpenetram. Hoje, quem é que reclama da palavra "otorrinolaringologista", todinha grega? Quem é que não usa a palavra "garagem" (ou "garage", tanto faz), que vem do francês? Mas (quase) tudo na vida tem limite. Em se tratando da língua, ou, mais especificamente, dos estrangeirismos, o limite é imposto pelo bom senso. Não vejo o menor sentido, por exemplo, no tosco uso da palavra off, que aparece na porta de algumas lojas. Não se trata de caso que enriquece a língua, que preenche espaço até então vago etc. Trata-se de subdesenvolvimento mesmo. Incurável. Ou, como dizia Nelson Rodrigues, do complexo de vira-lata. No lugar de off, parece conveniente usar a ultraconhecida palavra "desconto", cujo significado qualquer brasileiro conhece.......Que me diz o leitor de traduzir "Smoking is not allowed" por ''Fumando não é permitido"? Alguém teria coragem de traduzir smoking por "fumando" nesse caso? Certamente não, mas muita gente traduz ao pé da letra frases como "I will be sending" ou "We will be booking" (por "Vou estar enviando" e "Vamos estar reservando", respectivamente). Como se vê pela mensagem com que se avisa que não é permitido fumar, o gerúndio inglês nem sempre continua gerúndio quando traduzido para o português.......Onde estaria a inadequação de frases como "O senhor pode estar anotando o número?" ou ''Um minuto, que eu vou estar transferindo a ligação", que hoje em dia pululam e ecoam nos escritórios, no telemarketing etc.? O problema não está na estrutura - "flexão dos verbos 'ir', 'poder' etc. + estar + gerúndio" -, mas no mau uso que dela se tem feito. Essas construções são da nossa língua há séculos, ou alguém teria peito de dizer que uma frase como ''Eu bem que poderia estar dormindo" é inadequada?......Qual é o problema então? Vamos lá.......Quando se diz, por exemplo, "Não me telefone nessa hora, porque eu vou estar almoçando", indica-se um processo (o almoço) que terá certa duração, que estará em curso, mas - santo Deus! -, quando se diz ''Um minuto, que eu vou estar transferindo a ligação", emprega-se a construção "vou estar transferindo" para que se indique um processo que se realiza imediatamente. Quanto tempo se leva para a transferência de uma ligação? Meses ou segundos? O diabo é que, para piorar, "Vou estar transferindo" é uma verdadeira contorção verbal, que substitui, sem nenhuma vantagem, a construção "Vou transferir", mais curta, rápida, direta - e apropriada.......A moda do "gerundismo" (essa de "O senhor tem que estar pegando uma senha", "Vamos ter que estar trocando a embreagem do seu carro", "Ela vai precisar estar voltando aqui amanhã", "A empresa vai poder estar fornecendo as peças" e outras ultrachatices semelhantes) só tem uma coisa de bom: o caráter democrático. ......Traduzo: a praga pegou da telefonista ao gerente, da faxineira ao diretor-presidente.......E quem começou tudo isso? Não se sabe, mas me atrevo a dizer que nasceu da tradução literal do inglês (de manuais ou assemelhados).......Recentemente, um motorista me disse: "Professor, agora o senhor vai ter que estar me dizendo em que rua eu vou ter que estar entrando". Se eu tivesse levado a sério a pergunta dele, deveria ter respondido isto: "Naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua, naquela rua...". E, assim que ele entrasse na tal rua, eu deveria exigir que ele parasse o carro, engatasse a ré e ficasse entrando e saindo da rua (ou entrando na rua e saindo dela, como preferem os que amam a sintaxe. rigorosa), até moer a embreagem, os pneus... Até o gerundismo sumir do mapa!
Pasquale Cipro Neto é professor de língua portuguesa. consultor e colunista de diversos órgãos da imprensa e o idealizador e apresentador do programa Nossa Língua Portuguesa, da TV Cultura.
Este seu artigo foi publicado na edição nº1894 da Revista Veja..
Tabacaria
Tabacaria é, sem dúvida, a melhor poesia que já li. Comprei o livro "Mensagem" do Fernando Pessoa, e fui me encantando a cada frase, a cada palavra. Geminiana, como ele, eu sentia conhecidos os sentimentos ou pensamentos por ele registrados. Soube mais tarde muitas coisas interessantes sobre a sua vida, o que pretende compartilhar em outro momento. Por agora, deixo aqui a melhor de todas:
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÀ Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,Ainda que não more nela;Serei sempre o que não nasceu para isso;Serei sempre só o que tinha qualidades;Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,E ouviu a voz de Deus num poço tapado.Crer em mim? Não, nem em nada.Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardenteO seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.Escravos cardíacos das estrelas,Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;Mas acordamos e ele é opaco,Levantamo-nos e ele é alheio,Saímos de casa e ele é a terra inteira,Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca sereiA caligrafia rápida destes versos,Pórtico partido para o Impossível.Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,Nobre ao menos no gesto largo com que atiroA roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!Meu coração é um balde despejado.Como os que invocam espíritos invocam espíritos invocoA mim mesmo e não encontro nada.Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,Vejo os cães que também existem,E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o raboE que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soubeE o que podia fazer de mim não o fiz.O dominó que vesti era errado.Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.Quando quis tirar a máscara,Estava pegada à cara.Quando a tirei e me vi ao espelho,Já tinha envelhecido.Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.Deitei fora a máscara e dormi no vestiárioComo um cão tolerado pela gerênciaPor ser inofensivoE vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,Calcando aos pés a consciência de estar existindo,Como um tapete em que um bêbado tropeçaOu um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltadaE com o desconforto da alma mal-entendendo.Ele morrerá e eu morrerei.Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,E a língua em que foram escritos os versos.Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como genteContinuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.Semiergo-me enérgico, convencido, humano,E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-losE saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.Sigo o fumo como uma rota própria,E gozo, num momento sensitivo e competente,A libertação de todas as especulaçõesE a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeiraE continuo fumando.Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeiraTalvez fosse feliz.)Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universoReconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca sereiA caligrafia rápida destes versos,Pórtico partido para o Impossível.Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,Nobre ao menos no gesto largo com que atiroA roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!Meu coração é um balde despejado.Como os que invocam espíritos invocam espíritos invocoA mim mesmo e não encontro nada.Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,Vejo os cães que também existem,E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o raboE que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soubeE o que podia fazer de mim não o fiz.O dominó que vesti era errado.Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.Quando quis tirar a máscara,Estava pegada à cara.Quando a tirei e me vi ao espelho,Já tinha envelhecido.Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.Deitei fora a máscara e dormi no vestiárioComo um cão tolerado pela gerênciaPor ser inofensivoE vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,Calcando aos pés a consciência de estar existindo,Como um tapete em que um bêbado tropeçaOu um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltadaE com o desconforto da alma mal-entendendo.Ele morrerá e eu morrerei.Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,E a língua em que foram escritos os versos.Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como genteContinuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.Semiergo-me enérgico, convencido, humano,E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-losE saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.Sigo o fumo como uma rota própria,E gozo, num momento sensitivo e competente,A libertação de todas as especulaçõesE a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeiraE continuo fumando.Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeiraTalvez fosse feliz.)Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universoReconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
Baudelaire
"...
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.
..."
Charles Baudelaire - Correspondências, As flores do mal
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.
..."
Charles Baudelaire - Correspondências, As flores do mal
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Huckabees, a vida é uma comédia
Trecho do filme "Huckabeees". Markovsky trava o primeiro contato com o casal de "Detetives existenciais":
"(...)
Vivian - Nem sempre há significado (nas COINCIDÊNCIAS).
Markovski - Sim, significam algo.
V. - O quê?
M. - Isto é o que eu quero que descubra.
V. - Sobre a sua vida?
M. - Sim, sobre a minha vida e sobre a coisa toda. O Universo, sabe? O grandão. Quero dizer, devo fazer o que estou fazendo? Não há esperança?
V. - Sr. Markovski, vemos muita gente aqui que diz que quer saber a verdade sobre a realidade. Querem xeretar sob a superfície de tudo o que é grande. Mas pode ser um processo doloroso, cheio de surpresas. Pode desmantelar o seu mundo, este que você conhece. Por isto a maioria das pessoas prefere se manter na superfície das coisas. Talvez você deva ir para casa e esquecer isto (let sleeping dogs lie). Pegar leve. O que acha?
M. - Eu digo que não deve me ignorar. Por favor, eu quero saber. Isto é importante.
V. - O senhor já trascendeu espaço e tempo?
M. - Sim. Não. Tempo, espaço, não. Não, não sei o que está dizendo.
V. - Imagino que não ganhe muito dinheiro, Sr. Markovski.
M. - Isso vai ser um problema? Cobra caro por seus serviços?
V. - Varia de cliente para cliente. Alguns pagam US$ 30,00 por semana, alguns, mais ricos, pagam milhares de dólares.
M. - Não acredito que vocês existem. Há quanto tempo fazem isto?
V. - Dezessete anos, 352 casos.
M. - Que loucura. Vou pedir que fiquem longe do meu escritório, porque minha situação no trabalho está ligeiramente abalada.
V. - Quer que fiquemos longe do seu trabalho?
M. - Se forem ao meu escritório, podem pensar que sou instável, e isto pode me prejudicar.
(saindo desta sala)
V. - Eu quero que conheça meu colega. (encontram Bernard na sala contígua) Bernard? Este é o Sr. Markovski.
Bernard - Olá
V. - Ele terá que ser assistido gratuitamente.
B. - Tudo bem.
(...)
B. - Ok. Vamos começar. (abre entre seus braços um lençol branco)
M. - Isto é parte da minha investigação?
B. - Sim. Digamos que este lençol represente toda a matéria e energia do universo, certo? Você, eu, tudo. Nada ficou de fora, está bem? Todas as partítulas.
M. - O que está fora do lençol?
B. - Mais lençóis, eis a questão.
M. - O lençol é tudo.
B. - Exato. Isto é tudo. Digamos que este sou eu, certo? (levanta uma parte do lençol com uma mão) Eu tenho 65 anos e estou usando um terno cinza, blá, blá, blá. (levanta outra parte do lençlo com a outra mão) E digamos que este, aqui, é você. Você tem 21 ans, cabelo escuro, etc, (levanta outras partes do lençol e vai indicando) e aqui, esta é Vivian, minha mulher e colega. E aqui, a Torre Eiffel, certo? É Paris. E isto é uma guerra, e isto, um museu, isto é uma doença, isto, um orgasmo, isto, um hamburguer.
M. - Tudo é igual mesmo sendo diferente.
B. - Exato. Mas nosso cérebro esquece isto. Achamos que tudo é separado, limitado. Eu estou aqui, você está aí, o que é verdade, mas não é totalmente verdade. Porque estamos conectados. Porque nós-estamos-conectados.
M. - Claro. Claro. Claro.
B. - Certo. Agora, precisamos aprender a ver a verdade do lençol o tempo todo. Nas coisas do dia a dia. É para isto que serve isto.
M. - Por quê?
B. - Por que o quê?
M. - Por que preciso aprender a ver o lance do lençol o tempo todo?
B. - Bem, você não quer deixar de ver o quadro maior, quer?
M. - Não.
B. - Este é um dos motivos porque está aqui. É isto aqui. Estou falando sobre tudo agora, vai levar um tempo para você entender. Mas isto vai ajudá-lo (abre uma espécie de saco com zíper, destes pretos, não convidativos rsss)
M. - Como?
B. - Quando entender o lance do lençol, poderá relaxar, porque tudo que sempre quis ter, ou ser, você já tem e é. Não parece legal?
M. - Parece muito bom.
B. - Muito bem, entre.
M. - Você quer que eu entre?
B. - Sim.
M. - Então... eu devo entrar aí.
B. - Sim.
M. - O que vai acontecer comigo?
B. - Ei, você vai ver. Vai descobrir.
(Markovski entra, e vê o zíper sendo fechado)
B. - O propósito disto é ajudá-lo a esquecer suas percepções do dia-a-dia e renunciar à sua identidade comum, que acha que o separa das outras coisas. Esta sala. Esta rua. Esta cidade. Este país. Esta economia. Esta história. Este planeta. Seu corpo, seus sentidos, seu emprego. Tudo com o que se identifica.
(...)"
Faz lembrar a terapia com a Aditi, só que a gente não entra em um saco preto, assustador. rs Ao contrário: tem que respirar, e mergulhar para dentro.
Lembra muito o Avatar. Tem algo de física quântica, sincronicidade... e por aí afora.
Comédia doida. Elenco sensacional. Quem tiver interesse em saber mais:
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Curry: defesa contra Parkinson
Obrigatório na culinária indiana, o tempero vem se revelando uma excelente arma para proteger o cérebro
por Paula Desgualdo
"Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, resolveram checar se as já conhecidas propriedades da curcumina, um dos ingredientes do curry, seriam capazes de defender o sistema nervoso dos males causados pelo Parkinson. Eles observaram que a substância age diretamente sobre uma proteína que, quando está alterada, favorece a morte dos neurônios. Ao entrar em ação, ela diminuiu de 50% para 19% a proporção de células danifi cadas. “Esse pigmento é antioxidante e anti-infl amatório”, confi rma o nutricionista Erick Prado de Oliveira, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior de São Paulo. “Então, poderia prevenir doenças neurodegenerativas”, conclui"
por Paula Desgualdo
"Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, resolveram checar se as já conhecidas propriedades da curcumina, um dos ingredientes do curry, seriam capazes de defender o sistema nervoso dos males causados pelo Parkinson. Eles observaram que a substância age diretamente sobre uma proteína que, quando está alterada, favorece a morte dos neurônios. Ao entrar em ação, ela diminuiu de 50% para 19% a proporção de células danifi cadas. “Esse pigmento é antioxidante e anti-infl amatório”, confi rma o nutricionista Erick Prado de Oliveira, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior de São Paulo. “Então, poderia prevenir doenças neurodegenerativas”, conclui"
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