terça-feira, 28 de julho de 2009

SEM ZORBA NÃO HÁ BUDA - OSHO



Querido Osho, É realmente possível o encontro de Zorba e Buda? Se assim for, por que outros líderes religiosos nunca pensaram a esse respeito?

A primeira coisa a ser entendida: eu não sou um líder religioso. Um líder religioso não consegue pensar nem ver da maneira como posso – pela simples razão que ele tem um imenso investimento na religião e eu não tenho. (...) Os líderes religiosos não podiam ter pensado no encontro de Zorba e Buda porque isso teria sido o fim da liderança deles e o fim de suas chamadas religiões. Zorba, o Buda é o fim de todas as religiões. Ele é o início de um novo tipo de religiosidade que não precisa de rótulo – cristianismo, judaismo ou budismo. A pessoa simplesmente curte a si mesma, curte este imenso universo, dança com as árvores, brinca na praia com as ondas do mar, coleciona conchinhas do mar sem qualquer propósito – apenas por pura alegria. A maresia, a areia fresca, o sol nascente, uma boa corrida – o que mais você quer? Para mim, isto é religião – curtir o ar, curtir o mar, curtir a areia, curtir o sol – porque não existe outro Deus além da própria existência. Zorba, o Buda, por um lado, é o fim do velho homem – de suas religiões, suas políticas, suas nações, suas discriminações raciais e todos os tipos de estupidezes. Por outro lado, Zorba, o Buda é o início de um novo homem – um homem totalmente livre para ser ele mesmo, permitindo sua natureza desabrochar. Não existe conflito algum entre Zorba e Buda. O conflito foi criado pelas chamadas religiões. Existe algum conflito entre seu corpo e sua alma? Existe algum conflito entre a sua vida e a sua consciência? Existe algum conflito entre a sua mão direita e sua mão esquerda? Todos eles são um em uma unidade orgânica. O seu corpo não é algo a ser condenado, mas sim algo ao qual se deve estar agradecido, porque ele é uma das grandes coisas da existência, a mais milagrosa; o seu funcionamento é simplesmente inacreditável. Todas as partes de seu corpo funcionam como uma orquestra. Os seus olhos, as suas mãos, as suas pernas têm uma comunhão interna. Não acontece de seus olhos quererem ir para o leste e suas pernas irem para o oeste, ou que você esteja faminto, mas sua boca se recuse a comer: a fome está no estômago, e o que isto tem a ver com a boca? - a boca está fazendo greve. Não, o seu corpo não tem conflito algum. Ele se move com uma sincronicidade interna, sempre junto. E sua alma não é algo oposto ao seu corpo. Se o seu corpo é a casa, a alma é a sua hóspede. E não há qualquer necessidade do hóspede e o anfitrião brigarem continuamente. Mas as religiões não conseguiriam existir sem que você brigasse consigo mesmo. A minha insistência em sua unidade orgânica, para que o seu materialismo não seja mais oposto ao espiritualismo, é basicamente para demolir todas as religiões sobre a terra. Uma vez que seu corpo e sua alma comecem a se mover de mãos dadas, dançando juntos, você se torna Zorba, o Buda. Então você pode curtir tudo desta vida, tudo o que está fora de você, e também pode curtir tudo o que está dentro de você. Na verdade, o dentro e o fora são dimensões totalmente diferentes; eles nunca entram em conflito. Mas, milhares de anos de condicionamento, de que se você quiser o interior tem que renunciar ao exterior, criaram raízes profundas em você. Do contrário, isto é uma idéia tão absurda... Você tem que desfrutar o interior – E qual o problema em desfrutar o exterior? O desfrute é o mesmo; este é o elo de ligação entre o interior e o exterior. Ouvir uma bela canção, ou ver uma grande pintura, ou assistir um dançarino como Nijinski – isto está do seu lado de fora, mas não é de jeito algum uma barreira para o seu desfrute interior. Ao contrário, é uma grande ajuda. A dança de Nijinski pode despertar uma qualidade dormente de sua alma de modo que você também possa dançar. A música de um Ravi Shankar pode começar a tocar nas cordas de seu coração. O exterior e o interior não estão divididos. É uma só energia, dois polos de uma existência.
Zorba pode se tornar Buda mais facilmente que o papa polaco. Não há qualquer possibilidade do papa polaco, nem dos seus chamados santos, se tornarem realmente espirituais. Eles nem mesmo conhecem as alegrias do corpo. Como você pode achar que eles serão capazes de conhecer as verdadeiras alegrias sutis do espírito? O corpo é a escola onde você aprende a nadar em águas rasas. E uma vez que você tenha aprendido a nadar, então não interessa qual a profundidade da água. Então você pode ir para a parte mais profunda do lago; tudo será a mesma coisa para você. (...) Mas é preciso lembrá-lo a respeito da vida do Buda. Até os seus vinte nove anos, ele era um puro Zorba. Ele tinha disponível, às dúzias, as melhores garotas de seu reino. Todo o seu palácio era cheio de música e dança. Ele tinha as melhores comidas, as melhores roupas, belos palácios para viver, jardins fantásticos. Ele vivia mais profundamente que o pobre Zorba o Grego.
Zorba tinha apenas uma Babulina – uma mulher velha e enrugada, uma prostituta que tinha perdido todos os seus clientes. Ela tinha dentes e cabelos postiços – e Zorba era seu cliente somente porque ele não tinha como pagar. E você o chama de Zorba? – Você se esqueceu completamente dos vinte e nove anos da vida do Buda que era muito mais rica.Dia sim, dia não, ele vivia no luxo, cercado por tudo que ele podia imaginar. Ele estava vivendo numa terra de sonhos. Foi essa experiência que o tornou um Buda. Isto não tem sido analisado desta maneira. Ninguém se preocupa com a primeira parte de sua vida – que é a verdadeira base. Ele ficou enfastiado daquilo. Ele experimentou todas as alegrias do lado de fora, agora ele queria algo mais, algo mais profundo, que não estava disponível no mundo exterior. Para ir ao mais profundo você tem que se lançar para dentro de si. Com a idade de vinte e nove anos ele deixou o palácio à noite em busca do interior. Era o Zorba partindo em busca do Buda. Zorba o Grego nunca se tornou um Buda pela simples razão que a sua qualidade de Zorba estava incompleta. Ele é um belo homem, cheio de vivacidade, mas um pobre homem. Ele quer viver a vida em sua intensidade, mas ele não tem oportunidade de vivê-la. Ele dança, ele canta, mas ele não conhece as nuances mais altas da música. Ele não conhece a dança na qual o dançarino desaparece. O Zorba no Buda conhecia as partes mais altas e mais profundas do mundo exterior. Conhecendo tudo isso, ele estava pronto agora para continuar uma busca mais interior. O mundo é bom, mas não é bom o suficiente; algo mais é necessário. Ele lhe dá uns vislumbres momentâneos; o Buda quer algo eterno. E todos esses jogos acabarão com a morte. Ele quer conhecer algo que não se acaba com a morte. Se eu tivesse que escrever a vida de Goutama Buda, eu começaria do Zorba. E quando ele já conhece completamente o mundo exterior e tudo o que ele pode dar e descobre que ali está faltando sentido, ele parte em busca – porque ir para dentro era a única direção que ele não tinha olhado. Ele nunca olhou para trás – não havia motivo para ele olhar para trás, ele já tinha vivido tudo aquilo. E ele não era um buscador religioso que desconhecia o mundo exterior, de modo algum. Ele era um Zorba – ele foi para dentro de si com a mesma vivacidade, com a mesma força, com o mesmo poder. E, obviamente, ele descobriu em seu ser mais interno o contentamento, o preenchimento, o sentido, a benção que ele estava procurando. É possível que você consiga ser um Zorba e pare nisso. É possível que você possa não ser um Zorba e comece a procurar pelo Buda – você não irá encontrá-lo. Somente o Zorba pode encontrar o Buda; de outra forma você não terá a força: você não viveu no mundo exterior, você o evitou. Você é um escapista. Para mim, ser um Zorba é o começo da jornada, e tornar-se um Buda é alcançar a meta. E isto pode acontecer no mesmo indivíduo – isto só pode acontecer no mesmo indivíduo. É por isto que eu estou insistindo continuamente: não crie qualquer divisão em sua vida, não condene coisa alguma de seu corpo. Viva-o – não de má vontade – viva-o totalmente, intensamente. Este próprio viver torná-lo-á capaz de uma outra busca. É por isto que eu digo que meus sannyasins não têm que ser ascetas, que meus sannyasins têm que deixar suas esposas, seus maridos, seus filhos. Todas essas tolices têm sido ensinadas há séculos, e quantas pessoas – dentre esses milhões de monges e freiras – quantas pessoas floresceram? Nem mesmo uma simplesmente. Eu quero que vocês vivam a vida sem divisão. E primeiro vem o corpo, primeiro vem o seu mundo exterior. No momento em que a criança nasce e abre os olhos, a primeira coisa que ela vê é todo o panorama da existência ao seu redor. Ela vê tudo, exceto a si mesma – isto é para as pessoas mais experientes. Isso é para aqueles que viram tudo do mundo externo e se libertaram dele. Livrar-se do mundo externo não acontece através do escapismo. A libertação do mundo externo chega, quando se vive esse mundo totalmente, até já não mais haver para onde ir. Resta então apenas uma dimensão e é natural que você queira buscar internamente essa dimensão remanescente. E ali está o seu buda, a sua iluminação. Você está dizendo, ‘É possível o encontro de Zorba e Buda?’ Esta é a única possibilidade. Sem Zorba não há Buda. Zorba, naturalmente, não é o fim completo. Ele é a preparação para o Buda. Ele é a raiz; Buda é o florescimento. Não destrua as raízes; de outra forma não haverá florescimento algum. Aquelas raízes suprem continuamente a nutrição das flores. Todas as cores nas flores vêm das raízes. Toda a dança das flores no vento vem das raízes. Não divida. Raízes e flores são dois lados de um mesmo fenômeno.
Osho – From Bondage do Freedom – capítulo 40 Tradução: Sw. Bodhi Champak

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